tranS(obre)por #09
Instalação Sonora | Sound Installation
alto-falantes, impressões PB A3 e cabos de áudio
Speakers, PB A3 prints and audio cables
EDITAL DE OCUPAÇÃO FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
Palácio das Artes, Espaço Multiuso Mari'Stella Tristão
Belo Horizonte, MG, Brasil
2016
Pertencemos todos a gerações acostumadas a ver o mundo como uma projeção na tela, criada mediante a combinação de som e imagem em movimento. Marcelo Armani, em tranS(obre)por #09, nos instala em um mundo reelaborado com som e imagem, de uma forma, no entanto, em vários aspectos distante do cinema e das mídias dele derivadas. O som é o guia e a imagem não se move. O resultado da associação entre som e imagem é efêmero, pois a instalação é, para usar um conceito adotado por Armani, uma partitura que será executada por um período limitado de tempo. A paisagem urbana observada e capturada é paisagem sonora, reconfigurada pelo artista como arquitetura sonora no interior do espaço expositivo. Se nas classificações aceitas hoje na teoria da arte contemporânea esta proposta de trabalho encontra abrigo no âmbito da arte sonora, do ponto de vista filosófico ela guarda relação com uma potente vertente de pensamento que cresce a partir de meados do século XX, o antiocularcentrismo, que se percebe tanto nos escritos de Bergson como nos de Debord e Derrida, conforme nos mostra Martin Jay em Downcast eyes. Imerso no ambiente urbano e em verdadeira situação de deriva, com as dimensões estética e política que ela pressupõe, o artista propõe o som como “pedra de toque”, ciente da “invisibilidade” com que se reveste, para a maior parte das pessoas, essa rica camada de sentido: “O simples ato de deslocar-se pela cidade sem uma direção prévia. Encontrar, descobrir e compartilhar da peculiaridade sonora que existe nos ambientes do convívio urbano e que, por questões particulares da vida de cada um de nós, não percebemos”. Armani, nas séries anteriores deste projeto e também nesta, captura marcas e pontos de referência das diferentes paisagens sonoras com que se depara. Sons e ruídos são captados por microfones e registrados em um gravador digital, e posteriormente são editados e tratados com o recurso a softwares de áudio. Efeitos como ecos, repetições e mudanças de velocidade são usados, segundo definição do próprio artista, como “releituras das ações ou eventos sociais”. Na peça de arquitetura sonora projetada por Armani a imagem desempenha duas importantes funções: a de índice e a de metáfora. São índices do próprio instante de captura dos registros sonoros urbanos as fotografias da paisagem, dispostas no interior da instalação como pontos ou marcações em um mapa. Já os cabos de áudio vermelhos que conectam os alto-falantes aos sistemas de amplificação e reprodução no interior do espaço expositivo têm o valor de linha que atravessa, em várias configurações, as superfícies planas da sala, como os traços de um desenho, em nível concreto, e ainda como metáfora para os trajetos urbanos, para os mapas de cidades, para o sistema de circulação que constitui esses espaços. O espaço audível também é recriado visualmente com um acento minimalista.
Marcelo Armani nos faz mergulhar aqui em um universo visual e sonoro que é ao mesmo familiar, pelos aparatos tecnológicos conhecidos de todos e pela arquitetura bem estabelecida dos espaços expositivos, a do famoso “cubo branco”, e desconcertante em função de ruídos que usualmente desviamos de nosso foco de atenção, dos sons da cidade que desconsideramos e de vozes que seguem sem ser ouvidas.
Daniela Kern, historiadora da arte, PPGAV/UFRGS
alto-falantes, impressões PB A3 e cabos de áudio
Speakers, PB A3 prints and audio cables
EDITAL DE OCUPAÇÃO FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
Palácio das Artes, Espaço Multiuso Mari'Stella Tristão
Belo Horizonte, MG, Brasil
2016
Pertencemos todos a gerações acostumadas a ver o mundo como uma projeção na tela, criada mediante a combinação de som e imagem em movimento. Marcelo Armani, em tranS(obre)por #09, nos instala em um mundo reelaborado com som e imagem, de uma forma, no entanto, em vários aspectos distante do cinema e das mídias dele derivadas. O som é o guia e a imagem não se move. O resultado da associação entre som e imagem é efêmero, pois a instalação é, para usar um conceito adotado por Armani, uma partitura que será executada por um período limitado de tempo. A paisagem urbana observada e capturada é paisagem sonora, reconfigurada pelo artista como arquitetura sonora no interior do espaço expositivo. Se nas classificações aceitas hoje na teoria da arte contemporânea esta proposta de trabalho encontra abrigo no âmbito da arte sonora, do ponto de vista filosófico ela guarda relação com uma potente vertente de pensamento que cresce a partir de meados do século XX, o antiocularcentrismo, que se percebe tanto nos escritos de Bergson como nos de Debord e Derrida, conforme nos mostra Martin Jay em Downcast eyes. Imerso no ambiente urbano e em verdadeira situação de deriva, com as dimensões estética e política que ela pressupõe, o artista propõe o som como “pedra de toque”, ciente da “invisibilidade” com que se reveste, para a maior parte das pessoas, essa rica camada de sentido: “O simples ato de deslocar-se pela cidade sem uma direção prévia. Encontrar, descobrir e compartilhar da peculiaridade sonora que existe nos ambientes do convívio urbano e que, por questões particulares da vida de cada um de nós, não percebemos”. Armani, nas séries anteriores deste projeto e também nesta, captura marcas e pontos de referência das diferentes paisagens sonoras com que se depara. Sons e ruídos são captados por microfones e registrados em um gravador digital, e posteriormente são editados e tratados com o recurso a softwares de áudio. Efeitos como ecos, repetições e mudanças de velocidade são usados, segundo definição do próprio artista, como “releituras das ações ou eventos sociais”. Na peça de arquitetura sonora projetada por Armani a imagem desempenha duas importantes funções: a de índice e a de metáfora. São índices do próprio instante de captura dos registros sonoros urbanos as fotografias da paisagem, dispostas no interior da instalação como pontos ou marcações em um mapa. Já os cabos de áudio vermelhos que conectam os alto-falantes aos sistemas de amplificação e reprodução no interior do espaço expositivo têm o valor de linha que atravessa, em várias configurações, as superfícies planas da sala, como os traços de um desenho, em nível concreto, e ainda como metáfora para os trajetos urbanos, para os mapas de cidades, para o sistema de circulação que constitui esses espaços. O espaço audível também é recriado visualmente com um acento minimalista.
Marcelo Armani nos faz mergulhar aqui em um universo visual e sonoro que é ao mesmo familiar, pelos aparatos tecnológicos conhecidos de todos e pela arquitetura bem estabelecida dos espaços expositivos, a do famoso “cubo branco”, e desconcertante em função de ruídos que usualmente desviamos de nosso foco de atenção, dos sons da cidade que desconsideramos e de vozes que seguem sem ser ouvidas.
Daniela Kern, historiadora da arte, PPGAV/UFRGS